E ele chegou ao consultório de Terapia Ocupacional levado pelo pai de táxi, pois tinha dificuldades de sair na rua, ser visto e as pessoas comentarem algo ao seu respeito. O medo que sentia das pessoas, e do que elas poderiam dizer ao seu respeito o deixava praticamente restrito ao ambiente doméstico. Mesmo em tratamento psiquiátrico regular, isso persistia.
Durante a avaliação ele dizia que se sentia protegido em casa e que ao sair tinha medo do que poderia acontecer, visto que no momento da crise o conteúdo de suas alucinações auditivas lhe "alertavam" sobre o perigo que as pessoas representam.
Após avaliação do caso, e de colher todas as informações necessárias, era preciso elaborar um projeto terapêutico singular (PTS) junto a ele e sua família, para iniciar o tratamento focado em alguma das áreas de desempenho ocupacional. Estava claro que sua dificuldade maior encontrava-se na circulação social e no "estar com o outro". Esta então foi a prioridade no PTS e foi necessário o estabelecimento de uma relação terapêutica de muita confiança, pois ele estava ali disposto a estar comigo enfrentando seus medos mais íntimos. Por meio de acompanhamentos terapêuticos bem próximos da segurança de seu lar, iniciamos o trabalho. Por vezes e por até por meses, o acompanhamento se dava da porta de sua casa até o portão que dava para rua. O caminho para ele era longo, permitir-se ser visto, ser notado, ser observado pelo outro.
Depois de muito empenho na intervenção tanto do lado da terapeuta como do cliente, atualmente ele circula sem grandes obstáculos, e quando os obstáculos aparecem ele já aprendeu estratégias para lidar com ele. Hoje com maior autonomia e independência ele circula socialmente, e já não se fazem necessários os acompanhamento terapêuticos e visitas domiciliares, pois não há barreira mais entre sua casa e o consultório, e entre sua casa e o mundo.
Assim trabalha a Terapia Ocupacional, centrada no sujeito e com enfoque na autonomia e independência.
"Se é sobre cuidado, interessa à Terapia Ocupacional."
Abraços,
Keliane