São frequentes as dificuldades na realização das atividades de vida diária, em pessoas que apresentam déficits cognitivos relacionados a diversas patologias. Muitas vezes faz-se necessário uma adaptação na atividade para que ela possa ser efetivamente realizada.
Dificuldades para realizar tais atividades também se apresentam em pessoas com limitações físicas, no entanto as adaptações para tais atividades serão prioritariamente mecânicas, por meio do uso da tecnologia assistiva facilitando tal realização.
Quando se trata de comprometimento cognitivo isso já tem uma implicação diferente, pois o paciente tem recursos físicos para realizar a atividade, mas o processamento cognitivo (planejamento da tarefa, sequenciamento, execução, tomada de decisão, controle inibitório, flexibilidade cognitiva, atenção, memória de trabalho,...) é prejudicado. Nestes casos a intervenção do terapeuta ocupacional é importante para avaliar qual o comprometimento cognitivo presente, quais áreas cerebrais envolvidas, e quais preservadas para elaborar e executar uma adaptação com a qual possa melhorar o desempenho.
Trago hoje um exemplo de atividade preparada para uma pessoa com déficits cognitivos, levando em consideração o seu contexto e sua subjetividade. Segue então uma ilustração de uma adaptação da atividade de banho para este paciente que apresentava resistência para realizar o banho. Ele chegava a ir ao banheiro após muita insistência, mas lá chegando ao retirar a roupa e se ver nu, acreditava já ter terminado a atividade e vestia-se novamente sem ter realizado a tarefa. Este foi o problema de desempenho apresentado pela família e cuidadora e que representava prejuízo importante no auto-cuidado.
Após avaliação minuciosa, identifico que a dificuldade em realizar a tarefa está em decompô-la para realizá-la. Como potencial observo que trata-se de paciente muito responsivo ao estímulo sensorial visual por ser uma área preservada pelo acometimento apresentado.
Faço então a decomposição da tarefa, habilidade que atualmente o paciente não apresenta recursos para fazê-lo. Decompus a tarefa de banho em 5 passos com figura e frase simples e breve conforme abaixo apresento alguns:
Foram confeccionados com imagens coloridas e frases simples e claras fixadas ao EVA que tem fácil aderência quando molhado no azulejo do banheiro. Foi confeccionado também um livreto com o mesmo material, e foi feito o treino da cuidadora para que o livreto fosse utilizado minutos antes da atividade de banho estimulando e preparando o paciente para a realização do banho. Os 5 quadros ficam fixados no azulejo e o paciente é convidado a observar a sequencia para tomar o banho. Após 2 dias com esta sequencia de estímulos, o paciente que apresentava resistência para o banho já há 2 semanas retorna á atividade sem resistência.
Observando o material produzido, muitas pessoas podem pensar: precisa ser terapeuta ocupacional para fazer isto?
E a resposta é SIM!
Qualquer pessoa poderia recortar e colar na parede as tarefas...isto é fato. Mas o mais importante está no raciocínio por detrás desta atividade. Para saber se esta atividade conseguiria atingir o efeito esperado de melhorar o desempenho nesta pessoa na atividade de auto cuidado, foi necessário um raciocínio científico sobre as áreas cerebrais ativadas nesta atividade, as áreas acometidas no quadro do paciente, e quais as portas de entrada "input" dos estímulos para conseguir alcançar tais objetivos, dentre outros aspectos. Tais conhecimentos de análise da atividade e dos componentes necessários para o desempenho das atividades, é próprio do Terapeuta Ocupacional. A atividade em si é simples, e muito simples! O mais difícil e decisivo é o que está por detrás, é o raciocínio clínico que frente a esta demanda é competência da Terapia Ocupacional!
No gráfico abaixo é possível identificar a melhora no desempenho da atividade de 2 (em uma escala de 0 a 10) para 9. Este gráfico apresenta significativa melhora no desempenho da atividade de banho, que estava sendo uma atividade difícil e sofrida para o paciente, a família e a cuidadora.
"Terapia Ocupacional só com Terapeuta Ocupacional"!
Abraços,
Keliane
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