Excelente tarde para nós, nesta primeira segunda-feira de 2015!!!
Sempre comentam comigo sobre o "ocupacional" da terapia, com algum desconhecimento ou com alguma interpretação equivocada sobre o termo. Isto desde sempre, pois a Terapia Ocupacional ainda é uma profissão de maior destaque no meio daqueles que dela de fato precisam e podem se surpreender com suas possibilidades. Para as outras pessoas que não estão próximas à realidade prática desta profissão, muitas vezes fica a possibilidade real de alguns equívocos. Venho com este texto portanto, estimular uma reflexão sobre o termo Ocupacional da Terapia, de forma muito simples, com o intuito de proporcionar um entendimento no caminho que de fato se refere a questão. Não me proponho aqui a trabalhar definições, pois existem muitos textos que já trabalham bem este objetivo. Trago apenas um ponto de reflexão.
Quando falamos em Ocupação, estamos nos referindo ao Fazer Humano. De uma forma geral a população pensa em Ocupação, somente do ponto de vista de manter alguém ocupado ou estar ocupado com algo sem muita importância. Mas não é bem isto (mesmo porque não me formaria para ficar ocupando as pessoas com qualquer coisa, sem qualquer sentido...não mesmo!). A Ocupação Humana refere-se ao fazer significativo, e é o aspecto central da experiência humana. A tendência é que nos ocupemos daquilo que faz algum sentido, àquilo o qual consideramos significativo, atribuímos algum valor, e que nos é primordial. O modelo de Ocupação Humana ( Gary Kielhofner - principal autor), trata das relações do Fazer Humano com o ambiente, as atividades e as motivações para tal.
Ao longo da vida desenvolvemos habilidades e potencialidades, melhorando o nosso desempenho ocupacional em várias áreas. Por mais que você nunca tenha pensado na ocupação como algo importante, você tem se ocupado de algo que ao menos lhe parece ser importante no seu cotidiano. E se não tem se ocupado, ou não tem se ocupado bem, com prejuízo no desempenho ocupacional, é preciso atentar-se pois é por meio das ocupações que desenvolvemos papéis sociais, que contribuem substancialmente para a identidade social.
A Medida Canadense de Desempenho Ocupacional, aborda a ocupação em quadro grandes áreas: Atividades de Vida Diária (AVD), Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), Trabalho e atividades Produtivas e Lazer. Alguns de nós, têm se ocupado mais de algumas áreas em detrimentos de outras (trabalhando muito e dedicando-se pouco ao lazer; exceto os meus amigos do facebook que parecem estar sempre dedicados ao lazer...rs). Voltando a questão central, nas AVD concentram os cuidados que temos com nosso corpo, o auto cuidado; as AIVD as atividades práticas que realizamos como fazer compras, cozinhar, pagar uma conta, utilizar o transporte coletivo; Trabalho e atividades produtivas se relacionam às atividades produtivas remuneradas ou não, e por fim mas não menos importante o lazer, que remete à recreação, à diversão, ao prazer.
Se te perguntarem como está seu desempenho nas AVD, provavelmente você não identificará relevância na pergunta, por pensar que são atividades básicas e talvez não atribuir a elas a importância devida. Mas então imagine a mesma pergunta para alguém que por algum motivo qualquer está limitado no movimento das mãos, ou com dificuldades para caminhar. Aí então, é possível pensar e analisar o quão desgastante, e o quanto demanda esforço e concentração uma atividade de banho, por exemplo. São várias habilidades envolvidas nesta "simples" atividade. Você só precisa: ter boa acuidade visual para chegar até o banheiro e localizar os objetivos necessários; bom raciocínio lógico, atenção e memória para elencar os objetos e localizá-los; preservadas funções executivas para planejar e sequenciar cada etapa do banho de forma correta (afinal é preciso primeiro se molhar para depois ensaboar e utilizar a bucha); boa coordenação e destreza para deslizar o sabão pelo corpo; bom equilíbrio para manter-se de pé durante a atividade; e posso ainda listar mais umas 30 habilidades requeridas para a atividade de banho pelo menos. Tais dificuldades só são percebidas por quem a experimenta e por quem está por perto. Trata-se de uma importante atividade, do fazer humano, uma importante ocupação. E neste exemplo, qual profissional está apto para intervir de forma prática, seja adaptando ou reabilitando o desempenho prejudicado? Com certeza um profissional especialista em Ocupação Humana, que possa decompor a tarefa e identificar quais os componentes de desempenho estão envolvidos (sensório-motor, cognitivo, psicológico), quais as características do ambiente, do contexto estão influenciando mais para a referida atividade. Portanto é uma terapia prática, realizada muitas vezes no banheiro do cliente, em sua cozinha, em seu ambiente de trabalho, pois precisa ser contextualizada, trata-se de uma intervenção subjetiva.
Então a Terapia é Ocupacional, porque ela tem por objeto de trabalho a Ocupação Humana, e por objetivo de intervenção maior autonomia e independência no Desempenho Ocupacional.
Espero ter fomentado alguma reflexão a respeito.
Uma Terapeuta Ocupacional, apaixonada pelo que faz.
Keliane de Oliveira
Terapeuta Ocupacional
Mestre em Neurociências
